sexta-feira, 26 de maio de 2017

RESENHA: Edgar Allan Poe: Medo Clássico

Uma falha seríssima no meu currículo de leitora era nunca ter lido os contos de Edgar Allan Poe: o mestre. Aquele que deu início a tudo. Afinal, se Sherlock Holmes é o primeiro nome que se pensa quando o assunto é detetives da literatura policial, uma coisa é certa: Sherlock jamais haveria existido se antes não houvesse um Dupin. Por isso, quando a Darkside lançou esse primeiro volume reunindo contos de Poe eu soube que minha falha seria sanada em breve e em grande estilo.

A primeira coisa que chama atenção é a melodia existente no texto de Poe, que parece ter sido escrito para ser lido em voz alta. A segunda é que, mais do que uma sequência de acontecimentos, fica claro que o autor se preocupa em criar uma atmosfera e induzir sensações em seu leitor mais do que em criar uma trama (tanto que alguns contos têm acontecimentos semelhantes).

Os contos foram divididos de acordo com temas: “Espectro da Morte” (com uma temática mais sobrenatural), “Narradores Homicidas” (nos quais homens comuns, por motivos nada cotidianos, foram levados ao homicídio), “Detetive Dupin” (casos do célebre personagem que inaugurou a literatura detetivesca como a conhecemos), “Mulheres Etéreas” (em que homens apaixonados convivem com a morte de suas amadas) e “Ímpeto Aventureiro” (contos mais leves). Essa divisão mostra a abrangência da obra de Poe. De certa forma, podemos dizer que ele colocou a pedra inicial em cima das quais outros autores moldaram gêneros.

“Já não lhe falei que o que você confunde com loucura é tão somente uma exacerbação dos sentidos?” (POE, 2017, p.110)

Destaco aqui “Gato Preto” (um dos contos de “Narradores Homicidas”) no qual um homem começa a se tornar irritadiço e violento, acaba por matar seu gato e, assombrado por tal ato, acaba cometendo um ainda mais grave. Destaco também “Assassinatos na Rua Morgue” que, apesar de ser completamente absurdo - e, na minha opinião, trair a confiança do leitor ao propor o tipo de desfecho que em nenhum momento ele teria condições de desvendar, por mais atento que estivesse - é o pai das histórias policiais que, mais tarde, serão assinadas por Conan Doyle e Agatha Christie: um assassinato aparentemente insolúvel, muitas pistas, um detetive atento a detalhes que ninguém mais consegue captar e um desfecho surpreendente.

O texto mais famoso de Poe, o poema “O Corvo”, ganhou destaque especial com um texto introdutório no qual o próprio autor explica como surgiu a ideia do poema e quais as suas intenções com cada estrofe. Na sequência, o leitor pode conferir o texto original, em inglês, e duas traduções: uma de Machado de Assis e outra de Fernando Pessoa (eu, particularmente, preferi a primeira) que mostram, mais uma vez, a importância do tradutor na percepção que o leitor tem da obra, afinal, as versões de Machado e Pessoa são bem diferentes uma da outra.

Mas eu estaria mentindo se dissesse que Poe correspondeu às minhas expectativas. Confesso, inclusive, que achei alguns contos bastante enfadonhos e até mesmo confusos. Acredito que isso faz parte da intenção do autor, de fazer o leitor sentir mais do que entender. Mas, apesar do caráter sensorial do texto, eu não me senti amedrontada como eu esperava, nem mesmo tão envolvida com o que os personagens sentiam. Reconheço diversas qualidades nos contos, em especial a sonoridade do texto e as imagens que Poe facilmente cria na mente do leitor, mas para mim a leitura valeu mais para entender a importância do autor dentro da literatura de terror, mistério, suspense e policial do que pela experiência de leitura em si.

Além de contar com um prefácio de Márcia Eloísa (responsável pela tradução da obra) essa edição também conta com um prefácio do poeta Charles Baudelaire (que também traduziu textos de Poe) falando um pouco sobre o autor e sua obra. A edição traz ainda imagens da casa onde Poe morou e acompanha cada conto de uma ilustração sombria.

Esse é o primeiro volume da “Coleção Definitiva de Edgar Allan Poe” e integra a coleção “Medo Clássico”, da editora Darkside, que contará ainda com nomes como H.P. Lovecraft, Mary Shelley e Bram Stoker.

Título: Edgar Allan Poe: Medo Clássico
Autor: Edgar Allan Poe
N° de páginas: 384
Editora: Darkside
Exemplar cedido pela editora

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14 comentários:

Luli Ap. disse...

Olá Mari!
Uaaaaaaau que resenha espetacular <3
Essa edição da DarkSide é belíssima mesmo (DarkSide please pare de fazer edições tão lacradoras!)
Confesso que sua resenha é de certa maneira poética!
Amei como empregou tão mara e coerentemente as palavras sensorial e sonoridade numa referência a obra de Poe, nunca tinha pensado nisso nem nunca tinha lido nada assim.
Tenho uma queda pelos thrillers psicológicos, sobrenatural e literatura investigativa, mas tenho medo dos killers :/
Então vou pular o conto Gato Preto quando ler o meu livro rsrs
senão fico uma semana debaixo da cama com medo :/
Ótimo fds pra ti Mari e todos aí
Bjs Luli
Café com Leitura na Rede

Nessa disse...

Oi Mari
Gostei de saber sua opinião. Eu estou curiosa para ler o livro, nunca li nada do autor, e esta edição está maravilhosa. Ainda que o tema não seja o que mais me agrada, eu quero ler.

Beijinhos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

Gabriela CZ disse...

Li uma edição de bolso da coletânea Contos Extraordinários e tive uma sensação bem parecida a respeito de Poe, Mari. Mais pra averiguar a influência dele do que pela experiência da leitura. Também achei alguns contos um tanto enfadonhos, e no início do seu texto pensei que talvez fosse algo da tradução que li, até você dizer que teve a mesma sensação. Todavia, Gato Preto é um dos meus favoritos. Mas tenho vontade de conferir essa edição da DarkSide, pois parece mais enriquecedora em termos de material. Ótima resenha.

Beijos!

Babi Bueno disse...

Oi Mari.Tudo bem?
Acho que o unico conto do Poe que eu li foi "O Gato Preto"e por motivos didaticos.
Certa vez eu peguei "O escaravelho de ouro" e "Assassinato na rua Morgue",mas não consegui seguir em frente com a leitura.
Talvez se eu tente novamentr agora eu esteja pronta para ler.Mas tenho meus receios

Beijos
Meu mundinho quase perfeito

Adriana Holanda Tavares disse...

A Dark Side sempre com edições deslumbrantes. Só li dele o Corvo e adoro ele pelo vocabulário (por ser escrito a tanto tempo muitas vezes é bem cansativo, porém engrandece a gente). Com certeza iria adorar o livro.

RUDYNALVA disse...

Mari!
Estamos blindados em relação as sensações de medo e terror, devido aos acontecimentos reais em nosso país, por isso não sentimos mais profundamente o 'medo' traduzido por Poe, já que foi escrito no século XIX, onde tudo era motivo de constrangimento e sensação de terror.
Bom final de semana!
“A solidão é a mãe da sabedoria.” (Laurence Sterne)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE MAIO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

Carolina Garcia disse...

Oi, Mari!!!

Uma pena que você não gostou tanto assim. Mas me deixou bem curiosa para conferir “Assassinatos na Rua Morgue”. Com certeza vou dar uma olhada depois. :D

Imagino que a edição da DarkSide deve estar um primor! Eles arrasam nisso.

Bjs!!

http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Unknown disse...

Oi Mari, tudo bem?
Esses dias quase comprei este livro de tanto que as pessoas falam deste autor. Fiquei muito curiosa para conhecer um pouco mais das histórias dele, e acho que este livro seria uma grande ajuda já que reúne várias delas em um livro só. Devo dizer que a Darkside está de parabéns com esta edição.
Beijos

Maah disse...

Oi Mari.
Eu quero muito ler esse livro, eu conhece a escrita do autor na escola e adorei os seus contos, uma pena que ele não correspondeu suas expectativas, mas eu não vejo a hora de ler.
Bjs.

Lana Silva disse...

Essa edição está realmente linda, mas estamos falando da darkside, que possui as melhores capas de modo geral. Confesso que não me senti atraída por essa leitura, primeiro pois e possível notar a densidade do qual possuí os contos, algo que pela minha inexperiência vai me incomodar, acredito eu. Outro ponto, e que e a primeira vez que vejo falar sobre esse autor, e a coletânea, por isso pretendo esperar mais um pouco, quem sabe futuramente dou uma chance a essa leitura.

Márcia Saltão disse...

Olá!
Até o momento, li muito pouco do autor, mas já tenho esse livro na estante e em breve vou fazer a leitura! Tenho boas expectativas, espero gostar dos contos, mas é provável que algum deixe a desejar.
A edição é linda!
Ótima resenha, muito completa!
Beijos.

Letticia Gabriella disse...

O mestre Poe já tem histórias geniais, agora contadas pela Caveirinha chega ser covardia! Vi esta edição na livraria aqui da cidade e gente, é a coisa mais linda do mundo! Preciso <3 Um beijo :*

Ketellyn Amorim disse...

A Darkside sempre com edições maravilhosas, linda essa. Ainda não li nenhum livro do Edgar Allan Poe, mas tenho muita vontade de tanto que vejo falarem bem, esse vai para a minha lista, preciso comprar essa edição.

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!!
Infelizmente ainda não li nenhum dos contos de Edgar Allan Poe!! Mas estou louca para fazer tão leitura pois várias pessoas já me indicaram esses contos!!
Bjoss

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